quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Crônica Viking - Histórias da Terra Gélida

“Lendas velhas sobre o passado foram perdidas. O vestígio dos nossos irmãos, que outrora forjaram o aço e construíram barcos velozes, foi fragmentado. Muito do que não devia ser esquecido, se perdeu; e quando alguém algum dia perguntar por eles, não haverá lembrança sobre aquele povo, pois o tempo implacável consumiu o fogo do que lutava contra sua extinção. Contarei mais uma das histórias das quais me recordo, irmãos. Ela sobreviveu graças ao meu pai, Galdos, o ferreiro. Eis a história de Elrahor, O Intrépido, que ergueu sua espada e cantou a música do inverno ante a luta contra gigantes do norte; lutou pela proteção de seu povo até o fim de seu tempo, até a última batida do seu coração”

Elrahor, O Intrépido
As palavras do homem reservavam um vigor ancestral que dava um tom obscuro a narrativa. Não estava só; nove homens o acompanhavam através do olhar, sentados em um círculo entre a neve, uma fogueira espessa e restos de galhos secos. A noite parecia cair sobre eles com mais força que o próprio martelo de Thor, e o vento uivava como se estivesse doente; não obstante, aqueles que o escutavam não se distraíam com o ruído da natureza selvagem, tampouco com animais noturnos, mas ouviam com atenção aquilo que o líder havia para lhes contar. Tratava-se de uma velha história, fragmentada por décadas até chegar aos ouvidos dos filhos dos Antigos, seres de outrora com grande poder. A história fazia menção à Elrahor, guerreiro lendário que havia partido para a salvação de seu povo.
Magnífica era a história, mesmo nas partes em que o líder se esquecia de trechos ou se olvidava de como prosseguir. Não havia dúvida de que a história contribuía para obscurecer o local em que se encontravam:, a Vastidão Gélida do leste, uma terra infértil coberta de gelo e medo. Encerrada a história, os nove homens beberem um pouco de água e dormiram em simples armações de madeira, aquecidos por uma baixa fogueira que dançava ao desejo do vento.

Há cinco dias o grupo havia saído de Marennium, o maior porto ao sul do continente, e desde então não haviam tido descansos muito longos. A neve naquele território era muito densa e a geada era alta; sentiam dificuldade para avançar, mas os homens nórdicos desprendem esforço formidável até que o fôlego consuma seus corpos. Nenhum homem sentia-se preocupado com as barreiras daquele terreno frio, cinzento e obscuro, pois desde a infância conviviam com aquela ambientação árdua. Pássaros negros cantavam o hino da morte, sentados nas imensas árvores que habitavam aquele local há mais tempo que a soma da idade de todos os homens do grupo.
A vigésima noite se aproximava lentamente com o crepúsculo cinzento. O sol se punha por detrás das montanhas com agilidade, as sombras se esgueiravam pelas colinas expulsando as últimas interferências solares. A noite inundou a desolada planície em que se encontravam; preferiam se movimentar muito pouco a noite, quando as criaturas noturnas saiam para caçar. Lendas haviam de espectros sombrios que vagavam pelos ermos gélidos a procura de almas perdidas e desatentas. O líder do grupo, Galados, filho de Galdos, se pronunciou ante a noite:
- Amanhã cumpriremos aquilo que juramos ao nosso povo. Aguardemos com paciência por amanhã, irmãos. Nada será feito de nossa gente, e seguros eles estarão até amanhã. – fitou-os com a voz altiva e o olhar aguçado – Não sofreremos mais os ataques dos Invasores. O povo do sul contra atacará com o dobro da força de ataque inimiga! – encerrou com exaltação, brandindo uma arma invisível com o pulso. Gritos sucederam-se ao mesmo tom, e depois todos se colocaram a fabricar o novo acampamento. Haviam andado o dia inteiro através dos ermos congelados e chegaram a hesitar quando os ossos lhes pediram descanso durante o dia, andando por várias milhas do sul ao norte através da vastidão do leste; contudo, a noite havia chegado, e isso significava descansar por algum tempo.

O grupo havia caminhado muito tempo durante aquele dia, em especial porque houve escassez de comida a partir do Barad Meldirion, a última cidade do outro lado das planícies. Não obstante, caçaram um alce nas últimas fronteiras da cidade, onde prevalecia vegetação rasteira. Os alces ameaçaram uma fuga através do Grande Vale, motivo pelo qual o grupo se arriscou em uma frenética perseguição pela caça. Após terem comido pela manhã, avançaram com rapidez durante o tempo restante. Então beirarem o Grande Vale, prosseguindo até as vastas regiões de gelo.
Pode o leitor ficar com grande dúvida em relação ao propósito de tão árdua expedição; trata-se de uma jornada de dez homens do povo do sul pela busca da liberdade, e esta história nos relata como ocorreram os fatos daquela era. Os povos sulistas enfrentam crescente ameaça dos espectros das planícies, dos orcs do oeste e dos trolls nórdicos. Cabe aos senhores do gelo, domadores dos cavalos e modeladores do aço, encaminhar a derradeira batalha pela liberdade do sul. O povo do sul conta com a ajuda do noroeste, em Trudvang, fortaleza perdida em meio a uma cadeia intransponível e inacreditavelmente alta. Contudo, os senhores de Trudvang nunca se posicionaram quanto às guerras externas; a fortaleza protege-os com magia antiga, e o resto do mundo pouco lhes importa.
Cabe ao grupo, liderado por Galados, enviar uma mensagem de ajuda para Trudvang, a última esperança para os povos sulistas. Não obstante, o grupo desconhece os perigos do caminho e a natureza dos habitantes da fortaleza. Enfrentar novos obstáculos será apenas o começo de uma longa estrada para a libertação do povo do sul e expulsão dos diversos povos invasores.

sábado, 5 de junho de 2010

Mini-Conto: Uma Aventura na Noite (inspirado no jogo GURPS)

A noite está esplêndida para um ladrão; a lua brilha quase tão intensamente quanto o sol. O ladrão desta história possui o costume de roubar os ricos:
- " Não por uma questão de nobreza ", como costuma dizer, " é que os pobres não têm nada para se roubar! "
Esta noite, o ladrão está rondando uma parte da cidade particularmente rica; ele não possui o costume de frequentá-la, pois é bem vigiada. A grande chance surgiu esta noite, quando o vigia aproveitou-se da sorte de encontrar uma garrafa de uísque (preparada pelo sorrateiro ladrão) no escritório de sua cabine.
Dai Blackthorn, O Ladrão


O ladrão examina as janelas das imponentes casas iluminadas pelo luar insólito; descobre uma que não está trancada. Enfia a lâmina de seu punhal no vão e levanta a aldrava.
É impossível encontrar uma pessoa entre as sombras, caso ela seja um ladrão, - ainda mais se for um bom, como o é o desta história - pois os bons ladrões recebem árduos treinamentos em guildas secretas, entre as árvores das florestas, muito além das planícies residuais que pertencem à cidade.

Ele descobre que está na cozinha; o silêncio imortal recobre a maioria dos aposentos. Observa uma panela de ferro com tampa descansando sobre as brasas, no fogão: principalmente o aroma tentador de alguma coisa vindo do interior da panela. Há uma vela em um castiçal enfeitado, sobre uma mesa próxima ao fogão; o ladrão acende-a com as brasas. Observou com o cuidado de um ladrão sagaz o preço que aquele castiçal, ornado com prata e certamente feito por um habilidoso artesão, valeria no mercado negro.

Após examinar o castiçal, posicionou-os cuidadosamente em sua sacola; prosseguiu sorrateiramente e sem afobação para o próximo cômodo. Este novo lugar da casa é um pequeno vestíbulo que dá passagem para várias partes da casa. De frente para a escada e no sentido horário, havia: escadas que sobem e dobram à esquerda, um grande salão e uma despensa.

O ladrão confabula com determinação; qualquer caminho pode levar ao infortúnio, como também à riqueza espontâena. Decide subir a escada; por ser de alta qualidade, não há sequer um rangido. Depara-se apenas com uma porta; é o único meio de prosseguir. Primeiramente, projeta seu ouvido à porta, ouvindo apenas um ronco. Desliza com destreza a maçaneta da porta, entrando no quarto do propretário da casa. Há uma única pessoa aqui: um homem atarracado de barbas brancas, usando um espalhafatoso pijama de seda. Ele ronca alto. O quarto é enfeitado com várias estatuetas e objetos de arte. Há uma sineta pendente do forro ao lado da cama.

O ladrão aproxima-se da cama, e procura algum esconderijo para jóias ou objetos de alto valor. Por sorte do destino, o proprietário não acordou ao som produzido por um descuido; o ladrão esquece de trancar a porta e, esta, levada por uma rajada de vento que soprava da janela aberta, fechou-se. Não podia vacilar mais; qualquer outro ruído e tudo estaria perdido. Com sua visão insólita, dá-se conta de um cofre em baixo da cama do proprietário da casa. De cócoras, aproxima-se da caixa em formato de cofre. Parecia pesada; decidiu levá-la consigo. Sem hesitar, distanciou-se da cama, fechando a porta. Ante o lance de escadas, a saída parecia-lhe derradeira e fácil: estava à metros da janela, sua oportunidade de fuga para uma nova esquina, onde dobraria várias vezes para despistar ocasionais guardas, até chegar ao seu bairro. O vento da janela podia refrescar o suor que descia pelo seu rosto; estava à alguns passos da liberdade.

É nesta hora que o ladrão percebe a luminosidade fraca oriunda de um cômodo. Descendo metade do lance de escadas, observa que alguém está na cozinha. Sem poder tomar qualquer atitude, uma senhora pálida cruza o arco entre a cozinha e a sala de estar, resmungando algumas palavras:
- Fatso! Não acredito que você teve o descuido de deixar o guisado no fogo por tanto tempo. Parece que teremos que prepará-lo novamente, caso.. - a senhora parou por um pouco. Aproximou-se do lance de escadas, encarando o ladrão que, sem reação, não sabia o que fazer.
- Ei, Fatso, desça daí! Não vê que o chamo? - a senhora pareceu flexionar o olhar - Mas que palidez é essa? Parece que o rato comeu a sua língua!

O ladrão encontroa-se em beco sem saída. Tentou fazer uma voz amena, pouco audível:
- Sim, sim.. Foi descuido meu. Agora deixe-me levar o lixo para fora, que também o esqueci de levar - as palavras saíram em saltos, gaguejando ante a noite. A senhora fez um sinal de negação com a cabeça, e voltou para a cozinha: o ladrão encontrou a oportunidade para livrar-se do medo que o castigava. Sem pensar em outra coisa, abriu a janela pela qual entrou e desceu para a rua. Estava frio na cidade.
Esgueirou-se pelas esquinas monocromáticas da cidade, escuras como o abismo. E, entre aquele mundo tão pequeno, ninguém notaria a sua presença..
Apenas dias depois do ocorrido, a senhora da casa dos Fatso relembrara a ocasião. E, por alguma razão indizível, sempre achou aquela conversa noturna com o marido estranha.

Adaptado de " Uma noite de Trabalho", Aventura Solo Introdutória escrita por Creede e Sharleen Lambard. Este conto foi baseado na aventura pessoal que tive com o primeiro personagem em GURPS. O nome do ladrão no conto citado é Dai Blackthorn, como proposto nas fichas pré-escritas.

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